terça-feira, 31 de março de 2015

JORNAL BRASIL DE FATO: Vejam diversos artigos sobre a conjuntura politica brasileira. 31 de março 15

Editorial do jornal Brasil de Fato- 31 de março 15

Porque Eduardo Cunha tem medo do povo?


Os que pretendiam se manifestar nas audiências buscavam denunciar a contra reforma política que o presidente da Câmara quer implementar. Queriam também defender a punição ao crime de homofobia, o que Eduardo Cunha não aceita. As críticas não têm vindo só das ruas. Na última semana o presidente da Câmara foi acusado pelo então ministro da Educação, Cid Gomes, que o chamou de achador.

Para os desavisados, achador é aquele que “achaca alguém, extorquindo-lhe dinheiro. Ladrão vigarista. Autoridade que recebe dinheiro de gatunos.” O ministro caiu, mas disse verdades. 

Foi Janio de Freitas, importante jornalista político, quem advertiu: “Eduardo Cunha é cria de Paulo César Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então Telerj, telefônica do Rio”. Para quem não lembra, PC Farias esteve envolvido nas maracutais de Fernando Collor de Mello.

Eduardo Cunha, foi durante quase toda sua vida pública filiado ao PP, de Paulo Maluf, conhecido corrupto brasileiro. Cunha, foi deputado estadual no RJ, eleito com ajuda de igrejas evangélicas,e chegou a deputado federal em 2000. E sempre articulado com a direita, participou do governo Garotinho, entre 1999 e 2002. A relação entre ambos terminou com o governador Garotinho dizendo que uma certa emenda parlamentar de Eduardo Cunha tinha interesses escusos e cheirava mal.

Muda para o PMDB e reelege-se para deputado federal em 2006. Desde então faz oposição a Dilma. A desavença começa já que a presidenta não nomeou um indicado seu para Furnas. Vale lembrar que a nomeação não ocorre em função de denúncias que envolviam Furnas e um grupo ligado a Cunha.

Agora como líder do PMDB, e presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha, foi parar na lista da Produradoria-Geral da República no caso Lava Jato. Será investigado pelo Supremo Tribunal Federal. Mas sua ficha corrida é longa.

Em 2010, foi denunciado à Justiça pelo Ministério Público Federal por usar documentos falsos. O crime ocorreu ao tentar se defender no Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro, da acusação de ter cometido irregularidades à frente da companhia estadual de habitação, a Cehab. Cunha fraudou licitações para favorecer a construtora de um companheiro de partido, o PP. A atitude levou a sua demissão da Cehab.

A falsidade dos documentos foi atestada pelo Instituto de Criminalística Carlos Éboli em 2008. Como resultado das investigações, outro envolvido no caso, seu advogado, foi condenado. Como Eduardo Cunha é deputado, seu processo foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em outubro de 2013 foi aberta a ação penal 858 contra ele. Mas, em agosto de 2014, o STF arquivou o caso. Supostamente não havia prova de que o parlamentar soubesse da falsidade dos documentos. Será?

Agora, com as investigações da Operação Lava Jato, e o nome de Cunha na lista da Procuradoria-Geral da República, ele está na mira novamente.

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem se notabilizado por defender atitudes conservadoras no Congresso. Por sua iniciativa, a TV Câmara sairá das mãos de um profissional técnico e passará para do deputado evangélico Cleber Verde, do PRB do Maranhão. Não devemos esperar que a TV continue pautando assuntos como Direitos Humanos, por exemplo.

Não é por acaso que Eduardo Cunha se tornou bajulado pela imprensa nacional. Pois ele encarna o enfrentamento ao governo federal, a oposição a Dilma, e a proposta de um projeto político conservador. Ao mesmo tempo, que lança a discórdia no que deveria ser a base de apoio do governo federal no Congresso.

Eduardo Cunha seja como parlamentar, seja como presidente da Câmara de Deputados, é o retrato da falência do nosso sistema político. Suas promessas para ganhar a presidência da Câmara, transformadas agora em ações, não deixam dúvidas, não tem quaisquer preocupações com o povo. Prometeu aumentar o valor das emendas parlamentares, e fez. Prometeu que a Câmara pagaria as passagens aéreas de esposas e namoradas de deputados, e fez. Agora, angaria amplo apoio para buscar reduzir a maioridade penal. Como foi denunciado por outro parlamentar, vem legislando a favor dos planos de saúde, que o patrocinaram nas últimas eleições.

Não é por acaso que Eduardo Cunha e seu partido, o PMDB, buscam agora tornar legal o financiamento empresarial de campanha, que todos sabem, é a principal fonte de corrupção.

Com um presidente da Câmara dos Deputados como este, reforça que não podemos esperar uma reforma política democrática desse Congresso. Fica claro que a saída virá pela mobilização popular. É isso que Eduardo Cunha teme.
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>
>
> A luta de classes, essa velha senhora, não morreu>
> Por Celso Vicenzi, desde Florianopolis
vicenzi@newsite.com.br
>
> Que fique claro, desde o início. Toda corrupção precisa ser combatida
> e punida. Apesar de redundante, cabe frisar: isso vale para corruptos
> e corruptores. E o rigor que vale para uns, deve valer para todos.
>
> A corrupção está presente em todas as esquinas e praças do cotidiano
> brasileiro, nas esferas pública e privada, religiosa e filantrópica.
> Em todos os poderes, inclusive no Judiciário, onde é mais difícil pôr
> a mão. Basta lembrar que membros desse seleto grupo de ?justos?,
> quando pegos cometendo arbitrariedades, raramente são punidos.
> Costumam ganhar como "pena" uma aposentadoria precoce. Ou seja,
> geralmente são "punidos" com férias eternas e um ótimo salário pago
> por todos nós.
>
> Já houve casos de juízes vendendo sentenças. Qual a extensão desse
> tipo de irregularidade ou crime, se considerarmos que são milhares de
> ações que tramitam em juízo, envolvendo, diariamente, enormes
> quantias? Teriam alguns juízes a necessária isenção para investigar
> seus pares ou o corporativismo falaria mais alto? Fácil imaginar o
> quanto de tráfico de influência pode transitar em decisões que, apesar
> de sustentações técnicas, podem esconder, às vezes, interesses muito
> particulares. Numa sociedade permeada pela corrupção, difícil imaginar
> que o Judiciário seja uma ilha distante e imune ao que acontece no
> país, onde parte de seus magistrados participa, inclusive, de festas
> com os donos de boa parte do PIB brasileiro volta e meia envolvidos em
> escândalos de corrupção ou negócios que terão que ser decididos em
> diferentes instâncias judiciais.
>
> No Brasil, no entanto, onde a cultura da corrupção teceu fortes
> raízes, elege-se apenas meia dúzia para pagar a conta desse "banquete
> de justiça". Coincidência ou não, isso acontece justamente quando o
> Estado brasileiro passa a investir mais em políticas públicas que
> reduzem a desigualdade social. Que integrantes do PT envolvidos com
> corrupção precisam ser alcançados pela lei, nenhuma discordância.
> Assim como os do PSDB, PMDB, PP, DEM...
>
> Mas esse é apenas o efeito colateral das investigações. O que, parece,
> se busca, é deslegitimar a vitória de Dilma nas urnas, porque o
> partido teria recebido dinheiro de empresas envolvidas na Operação
> Lava Jato. Pouco importa se o dinheiro foi legalmente declarado ao
> TSE. Ou se as mesmas empresas financiaram todos os principais
> partidos. O foco é o PT. Única e exclusivamente o PT. As exceções
> apenas disfarçam a regra.
>
> Teriam alguns integrantes desse partido desviado mais recursos do que
> outros? Estaríamos, como querem os principais comentaristas de
> jornais, rádios, web e tevês, principalmente da Rede Globo, diante ?do
> maior caso de corrupção do país?? Difícil dizer, porque não houve, no
> passado, empenho semelhante para investigar outros escândalos. E
> também porque agora, quando surge a oportunidade de retroceder a
> governos anteriores aos do PT, há um indisfarçável desinteresse. Tanto
> que a CPI da Petrobras, no Congresso, não aceitou estender as
> investigações para o período dos governos de FHC, embora o mesmo
> doleiro que denunciou o PT tenha dito que já havia corrupção na
> Petrobras em 1997.
>
> O empresário Ricardo Semler, filiado ao PSDB, afirmou em artigo na
> Folha de S. Paulo (21/11/2014) que ?nunca se roubou tão pouco? e que
> já nos anos 70 sua empresa deixou de fornecer equipamentos para a
> Petrobras porque ?era impossível vender diretamente sem propina? . A
> empresa da qual é sócio também tentou fazer negócios nos anos 80, 90 e
> até recentemente, mas desistiu porque o esquema sempre foi o mesmo.
> Nos últimos 40 anos, disse ele, só mudaram os percentuais da
> corrupção, que ?caíram?. Ou seja, na contramão do que boa parte das
> emissoras de rádio e tevê, jornais e web tenta induzir, a corrupção na
> Petrobras vem de longa data e já foi bem maior. Nem vamos imaginar o
> que pode ter ocorrido no período da ditadura, quando ninguém ousaria
> investigar algo semelhante.
>
> Há, portanto, um indisfarçável show de cinismo e hipocrisia. A
> justiça, em tese, deveria ser igual para todos. Não é e não tem sido
> assim, infelizmente. Derrotado quem se quer derrotar, alguém tem
> alguma dúvida de que o zelo do Judiciário e as denúncias dos
> principais meios de comunicação não terão mais o mesmo ímpeto contra
> outros corruptos e corruptores? Isso já acontece neste exato momento,
> quando alguns notórios corruptos e corruptores são poupados enquanto
> outros são massacrados. Muitos desses cidadãos envolvidos em
> escândalos, aliás, participaram das manifestações sem que a mídia
> tentasse ao menos desmascará-los. É um jogo de aparências, de mais
> sombra ou mais luz conforme as conveniências da mídia e de outros
> atores interessados. O que a sociedade brasileira deveria exigir é a
> equidade no tratamento das investigações, seja da justiça, seja da
> mídia.
>
> Resultado de uma deturpação de nossa democracia, graças a abusos que
> não são coibidos, os veículos de comunicação inverteram o principal
> alicerce do Direito: agora todos são culpados até que se prove o
> contrário. E basta divulgar nos meios de comunicação os nomes dos
> acusados para a população condenar, antes que seja concedido o direito
> de defesa. Resultado de anos e anos de um jornalismo sensacionalista,
> substituímos a democracia por uma midiocracia. De nada resolve dizer
> que a mídia não condena quando ela promove uma superexposição do(s)
> acusado(s), sem o mesmo espaço para a defesa. Se, depois, o Judiciário
> vier a absolver, como algumas vezes acontece, pouco importa. Os
> denunciados já foram condenados à execração pública para o resto de
> suas vidas.
>
> Claro que os meios de comunicação são fundamentais ao exercício da
> democracia, desde que não se especializem ? como ocorre, não raro, no
> Brasil ? em dar sustentação a partidos de oposição ou de situação,
> conforme a conveniência, ou, ainda, para dar suporte ou desestabilizar
> governos que não atendam a seus interesses ou de seus "clientes" (os
> donos do capital). Pra quem confunde justiça com vingança, tá ótimo! E
> se alguém achar que não tem a mão da CIA e dos EUA em todos os
> movimentos de desestabilização de governos latino-americanos que não
> se alinharam com Washington, ganha um doce, por sua ingenuidade.
>
> Portanto, combater a corrupção, sim. Derrubar um governo com um golpe
> jurídico-midiático (militar parece uma hipótese mais remota), para
> abrir caminho para os interesses de classe e das grandes potências, NÃO.
>
> Aperfeiçoar a democracia, sim. Fazer do combate à corrupção, nas ruas,
> uma escada para a ascensão de grupos fascistas e totalitários, NÃO.
>
> Punir com o mesmo rigor todos os que se envolvem em corrupção, sim.
> Eleger apenas alguns para pagar essa conta, NÃO.
>
> Investigar e punir quem tem culpa em cartório, sim. Usar as
> investigações para quebrar empresas brasileiras que garantem milhares
> de emprego, NÃO.
>
> Fazer manifestações contra os escândalos de corrupção (todos!!!), sim.
> Achar perfeitamente normal caminhar lado a lado com fascistas,
> sexistas, sociopatas, homofóbicos, religiosos fanáticos e pessoas que
> pedem intervenção militar e não respeitam os Direitos Humanos, NÃO.
>
> Ir às ruas gritar contra a corrupção, sim. Utilizar-se de "jeitinhos?
> ? bem brasileiros! ? para obter vantagens para si, familiares, amigos
> ou parentes, NÃO.
>
> Desejar um Brasil melhor (para quem, para quantos?), sim. Dissimular o
> ódio às transformações sociais com o álibi de combater a corrupção, NÃO.
>
> Aceitar as regras da democracia e lutar para que os Três Poderes e a
> sociedade façam os ajustes necessários ao desenvolvimento do país e ao
> combate à corrupção, sim. Disfarçar preconceitos de classe para pedir
> a derrubada de um governo legitimamente eleito e que, com todos os
> defeitos, permitiu a ascensão das camadas mais pobres, NÃO.
>
> Entre o sim e o não, caminharemos para um Brasil com menos
> desigualdade, mais Direitos Humanos, que reafirme a sua soberania
> diante dos interesses das grandes potências. Ou para um Brasil
> novamente (mais) excludente, concentrador de renda e subserviente aos
> poderosos donos do capital internacional, como quase sempre aconteceu,
> ao longo da história.
>
> Combater a corrupção é fundamental, mas isso não pode servir como uma
> cortina de fumaça para permitir que as maiores conquistas sociais do
> povo brasileiro, atestadas por idôneos organismos nacionais e
> internacionais, sejam golpeadas por ações jurídico-midiáticas com o
> intuito de desestabilizar um governo e aniquilar os avanços obtidos
> nessa área nos últimos anos.
>
> As consequências podem perdurar por décadas, como aconteceu com a
> ditadura, que ainda mantém influências na vida da população. E há
> risco de haver um grande retrocesso: político, econômico e social.
> Isso deveria ser o mais importante e conduzido com mais
> responsabilidade. A prisão de uma dúzia ou mais de pessoas não deveria
> ser feita sem medir as consequências, com os exageros apelativos de
> uma superexposição dos fatos na mídia, geralmente em tom
> sensacionalista, o que contribui para criar um clima de instabilidade
> e quase-histeria entre a população. Inclusive porque donos dos
> principais veículos de comunicação, dessa mesma mídia, e vários de
> seus colaboradores também estão envolvidos em um escândalo de contas
> secretas no HSBC na Suíça, fato que pode indicar crimes de sonegação,
> lavagem de dinheiro e informação privilegiada para auferir lucros no
> mercado financeiro.
>
>  A luta de classes, essa velha senhora ? para usar a metáfora do
> momento ?, está nas ruas, novamente. Pode ser que a maioria não saiba,
> mas é disso que se trata, principalmente quando a justiça e a mídia
> parecem operar com dois pesos e duas medidas.
>
> Se antes eram as camadas mais pobres que tomavam as ruas para
> reivindicar direitos. Agora, majoritariamente, são as camadas de maior
> poder aquisitivo, que não aceitaram a quarta derrota eleitoral seguida
> e clamam por impeachment ou intervenção militar. Sim, há o álibi de
> ?varrer toda a corrupção?, eu sei. E sei também que há muita gente bem
> intencionada, críticos de um mau governo. É possível encontrar
> cidadãos e cidadãs, com razão, indignados com um partido que elegera a
> ética como uma de suas bandeiras. Há também muitos ingênuos e
> desinformados, incapazes de perceber outras intenções por trás de quem
> lidera os protestos. E há, ainda, não poucos, querendo enganar a
> outros ou a si. O que sei, também, é que o jogo que se joga neste
> momento é bem maior do que o necessário e desejável combate à corrupção.
>
> Cidadãos e cidadãs estão convidado(a)s a assumirem suas
> responsabilidades nessa jornada por um Brasil melhor. Mas é preciso
> definir desde já: melhor para quem, para quantos? O combate seletivo e
> parcial à corrupção, com ares de solução para todos os males, é apenas
> pretexto para ocultar onde se quer chegar. A luta de classes está aí,
> mais viva do que nunca.
>
> Que tenhamos boa sorte! 
Valor Econômico.

27/03/2015 às 05h00

"A burguesia foi às ruas, o povão ainda não", diz Lembo


Afastado da vida pública desde que deixou a Secretaria de Negócios Jurídicos da Prefeitura de São Paulo, em 2012, o ex-governador Claudio Lembo continua um provocador. Recebeu a reportagem do Valor com um sorriso e a pergunta "Como vai você e aquele seu jornal burguês?". Aos 80 anos, o advogado dá expediente em seu escritório ao lado do Parque Trianon, leciona duas vezes por semana na Universidade Presbiteriana Mackenzie e mantém o hábito de distribuir ironias à esquerda e à direita.


Valor: Há oito anos o senhor disse que a burguesia tinha de abrir a bolsa para amenizar a grande diferença social que havia no Brasil. Algo mudou de lá para cá? 

Claudio Lembo: Eu fui profético.Às vezes, Deus fala pela boca dos loucos. Naquela época, aproveitei e falei. Disse que a minoria branca estava extremamente agressiva, por causa do PCC. Agora vejo a minoria branca toda na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

Valor: Mas a parcela que está na carceragem da PF...

Lembo: É a pior.

Valor: ... é uma minoria dentro da minoria.

Lembo: Felizmente, a burguesia brasileira é maior. É bom que seja. A que está lá é a mais ativa, a que mais viciou a máquina do Estado.

Valor: Esse não é um fenômeno recente. Ele se agravou?

Lembo: Óbvio que os grandes empreiteiros, desde o tempo do Império, são sempre os mesmos. É uma endemia complexa e complicada. Não é brasileira, é internacional, mas a brasileira é pior. Nós tivemos um período da vida pública brasileira em que havia um planejamento de obras. Bem ou mal, havia.O regime militar pode ter cometido erros na área dos direitos políticos, dos direitos humanos.Mas indiscutivelmente havia racionalidade de pensar em projetos.Isso foi desmontado com a redemocratização.O governo do PSDB, de Fernando Henrique Cardoso, desmontou o que era planificação. Hoje o Estado brasileiro não tem nada de planejamento. É o empreiteiro que leva o projeto que interessa a ele e nem sempre ao Estado nacional. Até admito que a privatização deveria ter sido feita em alguns espaços, não em todos, mas acho que houve excessos.

Valor: A crise da Petrobras é uma decorrência natural disso? 

Lembo: O caso da Petrobras é profundamente grave. A Petrobras é o produto de lutas de gerações. Sou de uma geração que lutou pelo "O petróleo é nosso", até ingenuamente, e vejo com amargor o que está acontecendo. Mas também aí há uma interrogação: onde estava a CVM? Onde estava a auditoria? A direção ou o conselho de administração tinha de perceber que havia investimentos excessivos em determinadas áreas. O Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça Federal estão se portando com muita dignidade. Um exemplo mundial de tanto rigor e racionalidade na exposição dos fatos.

Valor: Esse episódio tem uma participação importante das empreiteiras, que o senhor acabou de citar como "planejadoras" do Brasil. A origem da crise está aí?

Lembo: Primeiro a gente precisa analisar a mudança da 8666 [Lei de Licitações], no governo Fernando Henrique, permitindo à Petrobras que não fizesse licitação, apenas chamada. Acho que aí está o primeiro erro. Deu dinâmica à Petrobras, mas deu também uma liberdade muito grande. Outro ponto foram os exageros do governo Lula, que acreditou que o Brasil era uma grande potência. O Brasil não é uma grande potência. A área de petróleo é muito complexa. Com o pré-sal, enlouquecemos. Se no Mar do Norte não estão explorando petróleo com grande ativismo, por que teria de ser no Atlântico Sul? Ou ingenuidade ou malícia. Excesso de ingenuidade é má-fé.

Valor: A corrupção também foi exacerbada nesse período?

Lembo: Foi. Evidentemente, foi. E não só na Petrobras, mas também em outras áreas.

Valor: Quais?

Lembo: Se levantarem as tampas, vai ser muito complicado. A burguesia não quer que tampas sejam levantadas. Basta a Petrobras.

Valor: A "elite branca" à qual o senhor se referiu está nas ruas, nas manifestações contra o governo Dilma?

Lembo: Muito. Um percentual elevado. Quem viu a avenida Paulista no domingo [15 de março] viu a classe média. E é bom que ela se movimente. A classe média é muito parada, muito sem vibração política. Mas ela está sendo injusta, porque ganhou muito no período Lula-Dilma. Eles não mexeram no bolso da classe média.Ela tem objetividade, uma nítida visão de interesse pessoal, nunca coletivo. E está apavorada. Quer ganho, mas não quer risco. Por isso, pede para as Forças Armadas voltarem. A burguesia está na rua.O povão, ainda não. Há alguma coisa em áreas específicas, mas é pouca gente. O movimento semteto (MTST) eu acho muito ativo...

Valor: O senhor pensa realmente assim? Olhando para o Congresso o que se vê é a oposição beligerante e uma base aliada não tão aliada...

Lembo: Ela não se mostra aliada assim, mas também não assume o antagonismo total. Acho que a Dilma, a quem admiro muito pessoalmente, tem pela frente dois homens extremamente qualificados: Renan [Calheiros] e [Eduardo] Cunha. O Cunha lembra um pouco o Carlos Lacerda. É o carioca inteligente, pertencente àquela elite médica carioca, que é boa, intelectualmente bem preparada. O Cunha é sádico, duro, inteligente e tem carisma. E o Renan é outro homem inteligente. De outro tipo, mas inteligente. Então, se a Dilma me procurasse um dia eu diria: "Vá ler Maquiavel. Quando você não pode vencer o inimigo, aproxime-se dele". Foi ingenuidade ter lançado candidato próprio para a Câmara e o Senado.

Valor: Como o PMDB pode ser inimigo sendo o principal aliado? 

Lembo: Ele não é inimigo. O PMDB é um partido que caracteriza bem as qualidades e os defeitos dos brasileiros. Sabe dialogar, sabe se impor nos momentos certos, sabe ocupar a máquina do Estado.Eles são os únicos que permaneceram desde a redemocratização.Eles têm uma linguagem popular, coisas que os tucanos não têm. Tucano não sabe transmitir e é odiento.Alguns senadores tucanos do Senado nutrem ódio que não é próprio da democracia. Um senador não pode dizer "quero vê-la sangrar". É feio.

Valor: Estimular ainda que veladamente a discussão sobre o impeachment da presidente é um desejo real ou jogo de cena? 

Lembo: É a postura real de alguns setores do PSDB. Particularmente aqueles que foram diretamente vencidos na campanha eleitoral.Estão muito cheios de ódio.

Valor: Então a tese do terceiro turno tem validade? 

Lembo: É nítida. Muito nítida.Mas não é todo o PSDB. Também tem gente equilibrada. O governador de São Paulo não tem entrado nessa conversa.

Valor: Mas ele é um candidato quase natural à sucessão presidencial... Onde o senhor acha que o rancor vai desaguar?

Lembo: É uma pergunta complexa.Eu teria que ser vidente. Se a Dilma conseguir se equilibrar, ela leva os quatro anos de um governo difícil, de grandes sacrifícios, e chega ao fim. Não vejo condições psicológicas para o impeachment.Acho muito, muito difícil. Mas as manifestações de rua, apoiadas eventualmente pelo PSDB, erraram quando pediram o apoio das Forças Armadas. Os militares não querem. Eles sabem que foram vítimas da burguesia, que fez o golpe de 1964 e usou o instrumental das Forças Armadas. Eles entraram, exageraram, mas sempre apoiados pela burguesia. Não vão mais fazer isso nunca mais.

Valor: O senhor acompanhou as manifestações [de 13 e 15 de março]? 

Lembo: Sim.

Valor: Na rua?

Lembo: Pela televisão.

Valor: Elas guardam alguma semelhança com as de junho de 2013?

Lembo: É outro momento.Aquilo foi articulado pela meninada do passe-livre. Essa me parece mais de gente amargurada, com um pouco de ódio.

Valor: O senhor vê o país socialmente mais dividido que há oito anos, quando propôs que a elite abrisse a bolsa?

Lembo: Muito mais. Naquela época, o PCC, burramente, atacou o Estado. E não foi nada. Queimou um ou dois ônibus, mas apavorou a burguesia. As mensagens por celular estavam no começo. Isso motivou uma comunicação desesperada.Havia essa questão da segurança pessoal. Hoje está todo mundo na rua. Todo dia tem tiroteio e ninguém mais liga. Acostumaram.

Valor: Hoje o crime...

Lembo: Avançou muito mais...Todas as modalidades de crimes.E o PCC está forte...

Valor: Porque o crime recrudesceu? 

Lembo: Sua pergunta exigiria tratamento sociológico profundo.O PCC tornou-se mais ativo e mais organizado. Ele retirou aquela ingenuidade de 2006 e ocupou todos os espaços, principalmente em relação à droga. Organizou-se muito bem, e a coisa é muito mais grave do que se pensa.

Valor: A política de segurança piorou?

Lembo: É complexo. Havia um excesso das polícias militares, eventualmente. A política de direitos humanos levou a uma posição de recolhimento da tropa.Isso fez com que a criminalidade crescesse. Por sinal, a PM de São Paulo está muito violenta.

Valor: Nos protestos de 2013 os manifestantes reclamaram muito da PM paulista.

Lembo: Agora as criancinhas estão beijando policiais. Não entendo o Brasil. É um país ciclotímico.

Valor: Como o senhor avalia o governo da presidente Dilma? 

Lembo: No primeiro mandato, ela quis, não sei se visando o instituto maldito da reeleição, ser cada vez mais sensível à sociedade, ao povão. E com isso fez benesses.Benesse custa caro. A condução da economia foi muito complexa, difícil. Acho até que meio equivocada. Foi socialmente bom e economicamente mal.

Valor: As pesquisas mostram que a baixa renda ainda não se manifestou muito intensamente.

Lembo: Ainda não chegou lá.Daqui a pouco chega. O que a burguesia não percebeu, porque é muito imediatista, é que se a vitória não fosse da Dilma ia ser muito pior o movimento de rua. Ia ser uma coisa muito pior, agressiva.

Valor: Como retomar a paz social no país? 

Lembo: Coma canseira. Isso aqui vai cansar. O país vai ter que purgar, vai ter que fazer análise. Vão ter que se integrar os grupos sociais todos. Brasília tem que se entender.O Executivo tem que se entender com o parlamento.

Valor: Essa crise de entendimento vai mudar o quadro partidário? O sr. acredita em reforma política?

Lembo: Eu só vejo duas reformas possíveis. Posso errar, mas acho que o fim da reeleição é inevitável. A reeleição foi o maior desserviço à história política e administrativa do Brasil. Foi o maior estelionato eleitoral. Desde 1890, quando foi elaborada a Constituição republicana, nós nunca tivemos reeleição. Aí veio a grande figura do doutor Fernando Henrique Cardoso. Não sei o que ele fez no Congresso com o Sergio Motta e conseguiu a reeleição. Só deu imoralismo, safadeza, corrupção.Ela vai cair. Felizmente vai cair. Outro é voto proporcional. Não pode haver coligação no voto proporcional, porque desintegra os partidos e não permite dar identidade aos partidos. Um terceiro caso é o financiamento de empresa, que também cai, mas vai criar caixa 2, um problema muito sério.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Livros Paulo Freire Gratuitos [9 Anexos]

[Anexos de Plebiscito Popular incluídos abaixo]

Lutadoras e lutadores do povo.
Recebi esse e-mail do companheiro Leo Koury e penso que vale muito a leitura desse material do Paulo Freire - um grande educador popular.

"Na atual conjuntura, qual questionam a legitimidade da contribuição de Paulo Freire para a educação no Brasil, indico o e-mail que recebi sobre uma coleção de livros disponíveis gratuitos de Paulo Freire".



​Foto da manifestação do dia 15 (pelos coxinhas)​


Atenciosamente,

Carol
Secretaria Operativa - Minas Gerais
(31) 3238-5000 / (31)3238-5041

Por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político.

"O povo quer tá no poder,
o povo quer participar,
por isso vamos construir o plebiscito popular"


__._,_.___
Anexo(s) de Plebiscito Popular | Exibir anexos na web
9 de 9 arquivo(s)

Enviado por: Plebiscito Popular <plebiscitopopularmg@gmail.com>

sexta-feira, 20 de março de 2015

sexta-feira, 13 de março de 2015

CONVITE DO NESP

Várias entidades da sociedade civil, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o Movimento de Combate à Corrupção estão empenhadas na discussão sobre o projeto de lei da Coalização Democrática, formada por mais de 100 entidades, cujas principais mudanças são: a proibição do financiamento privado e a instauração do financiamento democrático de campanha eleitoral; adoção do sistema eleitoral do voto dado em listas pré-ordenadas, democraticamente formadas pelos partidos, e submetidas a dois turnos de votação; regulamentação dos instrumentos da democracia participativa, previstos na Constituição; criação de instrumentos eficazes voltados aos segmentos sub-representados da população, como os afrodescendentes e indígenas.

O tema da Reforma Política também será debatido durante eventos que ocorrerão em duas unidades da PUC Minas, no dia 16 de março. A promoção é do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (Nesp) e do projeto Conexão Ciência e Cultura, da Secretaria de Cultura e Assuntos Comunitários da PUC Minas (Secac).

Contando com a presença do juiz Márlon Reis, a primeira atividade, aberta ao público, ocorrerá na unidade São Gabriel (Rua Walter Ianni, 255 - teatro ), às 11h, onde o magistrado, coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, se reunirá com alunos e professores.  O juiz é membro-fundador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e um dos líderes nacionais da Coalizão

Ainda no dia 16, às 19h30, Márlon Reis fará palestra, aberta ao público, com a participação do reitor da Universidade e bispo auxiliar de Belo Horizonte, Dom Joaquim Mol, no auditório 3, do prédio 43, no campus Coração Eucarístico, da PUC Minas (Av. Dom José Gaspar, 500).

A partir das 18h30min, na PUC Minas Coração Eucarístico, haverá o lançamento do livro O Nobre Deputado – Relato completo (e verdadeiro) de como nasce, cresce e se perpetua um corrupto na política brasileira, de autoria do juiz. Na obra, o autor apresenta os resultados de pesquisa inédita, na qual conseguiu ouvir pessoas que participam dos meandros da política sobre como se define a eleição de um deputado federal ou estadual. O resultado é apresentado de forma instigante.


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NÚCLEO DE ESTUDOS SOCIOPOLÍTICOS - Nesp
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Avenida Dom José Gaspar, 500 – Prédio 04 – Sala 205
30.535-901 – Belo Horizonte – MG
Fone: + (55) 31 3319-4978      E-mailnesp@pucminas.br     
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sexta-feira, 6 de março de 2015

Ciclo de Debates Reforma política, igualdade de gênero e participação: o que querem as mulheres de Minas (enviado pela CPT-MG)

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: ALMG GPI Eventos <gpi.eventos@almg.gov.br>
Data: 6 de março de 2015 09:20
Assunto: Convite ALMG | Ciclo de Debates Reforma política, igualdade de gênero e participação: o que querem as mulheres de Minas
Para: 


Caso não esteja visualizando o e-mail abaixo, acesse este link.

O presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputado Adalclever Lopes, e a bancada de mulheres da ALMG convidam para o
CICLO DE DEBATES: REFORMA POLÍTICA,
                            IGUALDADE DE GÊNERO E PARTICIPAÇÃO: O QUE
                            QUEREM AS MULHERES DE MINAS
13 de março de 2015 (sexta-feira) – 9 horas
Plenário Juscelino Kubitschek – ALMG
Rua Rodrigues Caldas, 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte – MG
Objetivos
  • Resgatar o significado do Dia Internacional da Mulher como uma data de luta pela construção da igualdade de gênero e da paridade política;
  • Apresentar experiências internacionais sobre a paridade de gênero na representação política;
  • Refletir sobre os entraves encontrados pelas mulheres para participação na política institucional;
  • Fomentar debates em busca de uma reforma política que amplie a representação e a participação de mulheres em instâncias decisórias e representativas;
  • Sistematizar as sugestões apresentadas ao longo dos encontros para que sirvam de instrumento de articulação entre a sociedade civil e o poder público, e formalizar a entrega dessas contribuições ao Congresso Nacional.
Programação9 horas – Abertura
10 horas – Igualdade de gênero e reforma política: um diálogo comparado sobre a construção da paridade política
11h30 – Debates
12h30 – Intervalo
14 horas – Reforma política e a representação das mulheres no Brasil: desafios atuais e propostas elaboradas
16 horas – Debates
17h30 – Encerramento
Conheça a programação completa do evento, com os nomes das expositoras, no Portal da Assembleia.
Inscrições
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo Portal da Assembleia, de 26/2 a 12/3/2015 (até as 16 horas).
Informações sobre as inscrições no Centro de Atendimento ao Cidadão (CAC), pelo telefone (31) 2108-7800, das 7h30 às 19 horas.
Informações técnicas na Gerência-Geral de Projetos Institucionais (GPI), pelo telefone (31) 2108-7686.
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